Video - A Maldição da Lua Cheia
Em uma aldeia isolada entre montanhas, o medo era silencioso, mas constante. Os moradores viviam com receio daquilo que rondava nas noites de lua cheia. Quando o sol se punha, portas eram trancadas, janelas vedadas, preces murmuradas em segredo. Ninguém falava abertamente, mas todos sabiam: havia algo lá fora. Na floresta, sob o luar, uma figura solitária ajoelhava-se. O corpo tremia, os ossos se torciam, a carne se esticava em espasmos de dor. A transformação era lenta, brutal. Unhas se alongavam em garras, dentes cresciam em presas, a pele rasgava para dar lugar ao pelo espesso. Um uivo cortava a noite como um grito de nascimento e agonia. O homem já não existia — em seu lugar, surgia o lobisomem. A criatura descia pelas encostas com movimentos ágeis e ferozes. Seus olhos brilhavam como brasas. O faro aguçado guiava-o até os arredores da aldeia. Animais selvagens fugiam, sentindo a presença predadora. Dentro das casas, corações aceleravam ao menor ruído. A fera não buscava apenas carne: havia um instinto mais profundo, algo entre lembrança e perda. Às vezes, parava diante de uma casa e cheirava o ar como se buscasse algo esquecido. Então se afastava, deixando marcas profundas no solo e nas portas de madeira. Quando a aurora tingia o céu, a criatura corria de volta para a mata. O corpo tombava, exausto. Aos poucos, a forma humana retornava. O homem jazia nu, coberto de sangue seco e folhas, os olhos vazios, como se não soubessem onde estavam. A cada transformação, parecia perder um pouco de si. Na aldeia, o dia surgia em silêncio. Os rastros eram varridos, os mortos enterrados sem perguntas. Ninguém buscava culpados. Sabiam que o monstro andava entre eles — e que, ao anoitecer, voltaria. A maldição era antiga, silenciosa, e esperava apenas o próximo ciclo da lua.